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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Por quê algumas pessoas exigem demais de si.


Por que algumas pessoas exigem demais de si mesmas (e não se dão conta disso).
A Neurose Obsessiva sob o foco das questões diárias.

Diz o conhecido dito popular que "de médico e louco, todo mundo tem um pouco". De acordo com minhas observações, e com a própria teoria psicanalítica, prefiro pensar que "de cada tipo de loucura, todo mundo tem um pouco". Já "de médico"...

A teoria psicanalítica, genial criação de Freud - complementada continuamente por gênios com M. Klein, Bion, Winnicott, Lacan, E. Roudinesco, entre outros – aponta basicamente 3 tipos principais de transtorno psíquico: psicose, neuroses histérica, obsessiva e fóbica, e perversão. Cada uma delas ainda sujeitas a preconcepções estereotipadas e caricatas, mesmo na atualidade. No entanto, de cada uma delas, temos todos pelo menos um pouco, aceitemos ou não, percebamos ou não.

Assim, de acordo com a visão popular, a histérica é a que grita, exagera, chama a atenção; o psicótico, aquele sujeito "louco", potencialmente perigoso até, e que "surta"; o perverso, necessariamente mal, sádico e frio. Quanto ao neurótico obsessivo, bem... se puder evocar Jack Nickolson em "As good as it gets" (Melhor é Impossível) teremos a visão caricata do rígido e "maníaco", cheio de tiques e regras, mal humorado e agressivo.

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sexta-feira, 13 de abril de 2012

A Destrutividade da Depressão


Temos a tendência, tanto nós, individualmente, como a sociedade, a desprezar a depressão ou considerá-la apenas como tristeza excessiva ou resultado do estresse (falso, embora possa haver correlação em certos casos). A depressão é mais séria do que isso porque ela nos afeta de tal maneira sub-reptícia que nos focamos em destruir tudo aquilo que temos e fizemos de bom. A depressão atua no sentido de paralisar e desintegrar, podendo levar à morte. E esta morte pode não ser necessariamente a do corpo físico; pode ser, e penso que é em alguns estágios do transtorno, e em alguns casos em particular, a morte de coisas e objetos bons; de valores, competências, capacidades e potencialidades. O objetivo é anular tudo isso.

Além do foco na destruição, a depressão também embota o raciocínio e faz com que não nos apercebamos das reais intenções desse mal. Já ouvi relatos de pacientes deprimidos que se referem a seu estado como “a vida em branco e preto”, “estar envolvido por uma esfera gosmenta, opaca”, “estar envolto em nuvens cinzentas e carregadas”. Assim, agimos com impulsos destrutivos de forma inconsciente, sem o saber ou mesmo suspeitar. Um exemplo disso é não tomarmos conta da saúde, deixarmos de fazer coisas que sabemos serem vitais para a vida e para o trabalho, e/ ou adotarmos posturas que prejudicam nossos relacionamentos pessoais, familiares, profissionais e conjugais.


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quinta-feira, 3 de novembro de 2011


Amor Não Correspondido
Unrequited Love

Levou à criação e produção de grandes peças musicais, de óperas a canções populares, obras poéticas e literárias. Através da dor e do sofrimento, artistas souberam mergulhar nessa dor e sair dela com peças de peso, que tocam nossos espíritos e mexem com nossos sentimentos, muitas vezes de formas indefinidas.

Para todos nós, não contemplados por dotes artísticos diferenciados, resta-nos a alternativa de fazermos o mergulho em nosso próprio mundo mental, e observar o que nos leva à dor e ao sofrimento dos amores não correspondidos.

Quer falemos de um relacionamento já existente, quer falemos de nosso interesse por alguém que simplesmente não nos enxerga, tudo se passa de forma similar. Afinal, o quê perdemos, ou o quê não obtemos ao sermos rejeitados pelo outro?

Estamos falando da tristeza que decorre da perda de alguém por quem nutrimos sentimentos de complementaridade, compaixão, afeto, ou falamos de dores que decorrem de uma ferida pessoal, narcísica mesmo? Não há juízo de valor aqui.

A resposta não é trivial e imediata como somos tentados a supor e requer coragem para enfrentar questões pessoais complexas e difíceis. Se optarmos pela resposta inadequada, seremos levados a estados de melancolia persistente e a repetições de comportamentos os quais, no limite, podem se tornar compulsivos. A incessante busca por alguém é apenas uma dessas repetições, que mais marcam a contemporaneidade.

Por outro lado, se arriscamos e fazemos esse mergulho em nosso mundo mental, concedemo-nos a oportunidade de regressarmos à tona com nossa própria música, nossa própria composição, de autoria do analisando em parceria com seu analista. E tal composição passará a fazer parte da trilha sonora de nossa vida.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Resistindo aos Padrões


Assistindo ao interessante programa Planetas, na Cultura, vejo a história de uma jovem cientista que teve o raro privilégio de visualizar as primeiras imagens do planeta Vênus.
Ela conta que recebeu as imagens logo pela manhã e que imediatamente debruçou-se sobre elas e começou a procurar por padrões semelhantes ao da Terra mas que não os encontrava.
A maior parte de sua entrevista, bem como as de outros cientistas que participavam do programa, foi permeada com colocações como as da cientista acima; todos procuravam identificar, seja nas imagens de Vênus, seja na de outros planetas, padrões compatíveis com os do nosso pequeno planeta.
Ora, de repente, isso me chamou a atenção e fiquei ligeiramente incomodado com as entrevistas. Eram cientistas falando; cientistas que estavam tendo a rara oportunidade de olhar para coisas jamais vistas por olhos humanos, através de equipamentos da mais alta e sofisticada tecnologia, e a primeira e mais frequente questão para eles era encontrar padrões já conhecidos nossos, com os quais estamos familiarizados.
Onde fica o novo nisso? Onde fica a busca por coisas jamais vistas se o filtro utilizado é o mesmo empregado para olhar para o que já conhecemos?
É sabido que buscamos sempre por padrões conhecidos e com os quais estamos acostumados. Para a maioria de nós, meros mortais, isso foi fundamental para garantir que sobrevivêssemos ao longo do tempo. Para cientistas, que devem ter em foco aquilo que habitualmente passaria desapercebido para o cidadão comum, parece-me um contrassenso.
Porém, creio que já não deve mais ser uma necessidade apenas dos cientistas a de olhar para o novo e encará-lo como novo, como desconhecido. Todos nós podemos, e acredito que devemos, exercitar essa capacidade, pois temos o potencial de fazê-lo.
Olhar para o novo, ou até então desconhecido, resistindo à tentação de buscar por padrões já conhecidos, é difícil e nos coloca frente a frente com medos e angústias que resistimos fortemente a encarar. Porém, da mesma forma como para os cientistas acima, sem esse olhar ficamos presos a enxergar apenas aquilo que estamos já habituados e deixamos passar aquele pequeno ponto dissonante que pode abrir as portas para um mundo inteiramente novo.
No campo da Psicanálise, não é diferente. Ao ouvirmos, precisamos continuamente resistir a encontrar padrões; precisamos ouvir cada indivíduo  como se fosse um novo e inexplorado planeta sobre o qual jamais havíamos colocado nossa atenção.
Cada ser humano é um mundo e somente a apreensão desse novo mundo despida de filtro preestabelecidos é que proporcionará o verdadeiro trabalho de análise, em benefício do próprio paciente.
Certamente não é tarefa fácil, como demonstra a experiência da cientista que vislumbrou Vênus. Mas, como diria Churchill, é preciso “persistir, persistir e persistir”.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Diferença entre Pensar e Remoer

"É aconselhável que o homem não fique remoendo a ideia do que ele poderia ter feito para evitar um acontecimento desagradável, que já não pode mais ser modificado, pois tal atitude só lhe aumenta a dor, atingindo níveis insuportáveis e transformando-o num ser angustiado."


Arthur Schopenhauer, Aforismos sobre Filosofia de Vida.

Dia desses, conversando com um colega, este me comenta que tem ouvido diversas pessoas queixarem-se de que "não conseguem parar de pensar". Mas pensam sobre o quê?, indaguei.
A resposta que recebi é extensa, de modo que é preferível ir direto ao que concluimos: muito do que julgamos ser pensamento é, em realidade, ruminação. Ruminar é, como bem disse Schopenhauer acima, remoer a mesma ideia ciclicamente, repetidamente, sem, contudo, avançar um décimo que seja em direção a uma nova compreensão ou a um novo ponto na linha de raciocínio. Logo, ruminar é utilizar toda nossa competência intelectual, todo nosso conhecimento, dados, informações, experiências, sobre algo que já está dado e definido e que não será alterado pelo nosso "ruminar".
No entanto, ruminar nos seduz, captura nosso intelecto. Às vezes, chegamos a ser invadidos pela ruminação, particularmente quando passamos por situações angustiantes, vexatórias ou estressantes.

Nesses momentos, o aconselhável é observar se estamos de fato pensando ou se estamos apenas ruminando; em se tratando da última, o melhor a fazer é procurar distrair a atenção com qualquer outra coisa que não seja nos deixarmos seduzir por essa consumidora voraz de massa cinzenta que é a ruminação! E, se mesmo assim for difícil resistir a essa tentação (e sempre é), lembrar de outro grande ensinamento de Schopenhauer: em geral, somos assaltados pela ruminação à noite, ou no final do dia, quando nossos cérebros já estão cansados e necessitando de repouso e relaxamento. A receita de Schopenhauer é simples: não se pensa sobre assuntos sérios à noite, quando estamos cansados, pois tenderemos muito mais a ruminar; isto deve ser feito durante o dia, quando há potência mental suficiente à nossa disposição. À noite, descansamos. Isto sem dúvida vai na contramão do nosso modelo ocidental. Mas está bem em linha com a filosofia oriental, milenar. Qual devemos escolher?

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Para o Final de Semana


A parceria entre Arte e Psicanálise é muito rica; talvez pelo fato da Psicanálise ser também, a seu modo, uma expressão artística, criada no universo particular, e singular, de dois inconscientes que se encontram num determinado setting.
Schopenhauer, em O Mundo como Vontade e Representação, sua obra máxima, considerou a Música como a Arte absoluta, não sujeita a subjetivação. Creio que ele tinha em mente compositores como Beethoven.
Nada nos impede, no entanto, de enquadrar o mais variados tipos de Música dentro do belíssimo conceito elaborado por Schopenhauer. Precisamos apenas observar que se trata de Música.
O tema de The Thomas Crown Affair, composto por Michel Legrand, em 1968, para a primeira versão do filme, ilustra bem esse ponto de vista, seja pela composição, seja pela letra, escrita por Marilyn & Alan Bergman (aliás, a canção venceu - mais do que merecidamente - o Oscar naquele ano).



Round, like a circle in a spiral
Like a wheel within a wheel.

Never ending or beginning, 
On an ever spinning wheel
Like a snowball down a mountain
Or a carnaval balloon
Like a carrousel that's turning
Running rings around the moon


Like a clock whose hands are sweeping
Past the minutes on it's face
And the world is like an apple
Whirling silently in space
Like the circles that you find
In the windmills of your mind


Muitos intérpretes gravaram The Windmills of Your Mind. De todos, Barbra Streisand, em seu recente What Matters Most, talvez tenha sido a que melhor unificou música e letra, numa interpretação melancólica, brilhante. Altamente recomendado.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Agora, as segundas-feiras.

Após ler o trecho sobre as Neuroses de Domingo, um amigo meu me questiona sobre as segundas-feiras. Afinal, qual a razão do mal estar às segundas-feiras?

Aproveitando a "deixa" de Ferenczi, parece-me que uma das possibilidades para explicar o mal estar do qual muitos de nós padecem às segundas-feiras, está justamente na continuidade do mal estar dominical; se, ao final do domingo, nos damos conta de que estaremos, muito em breve, novamente envoltos na rotina semanal, conquanto isso possa aliviar algumas das pressões expostas por Ferenczi, e que geram o mal estar dominical, nos damos conta de que não aproveitamos adequadamente nosso período de descanso. Vale alertar de que estamos falando aqui de coisas que operam ao nível inconsciente, de modo que não pensamos: "puxa, não aproveitei o final de semana e agora tudo começa outra vez" com toda essa clareza; o sentimento associado a esse modo de operar é que é percebido por nós como mal estar.

Deste modo, às segundas-feiras, estamos novamente expostos e somos novamente lançados a nossas inúmeras atribuições do dia a dia, algumas delas não de todo agradáveis.

Adiciono a esse pensamento certas variáveis exógenas que apenas reforçam o sentimento que menciono acima. Tais variáveis dizem respeito ao imperativo social (e do consumo) do "aproveitar tudo o que o mundo nos oferece". Somos compelidos a "aproveitar". 

Lembro-me de ter ouvido um comentário, certa vez, sobre como fulano não aproveitava "tudo o que São Paulo oferecia aos finais de semana". Também me lembro da réplica do outro, perguntando: "Mas, tudo o quê? Filas, trânsito, manobristas, flanelinhas, espera de horas por uma mesa num restaurante, pessoas falando alto no cinema...?!".

De fato, somos compelidos a "aproveitar" de uma forma que pode não ser exatamente aquela que desejamos. Daí, decorre outro sentimento de frustração, posto que não obtemos o prazer almejado com aquilo que realizamos.

Em resumo, muito do famoso mal estar de segunda-feira parece-me decorrer tanto do sentimento de não se ter usufruído adequadamente dos momentos de lazer, seja pelos fatores mencionados por Ferenczi, seja por se ter deixado levar por variáveis sócio-consumistas que não estão, embora possam apresentar-se com estando, adequadamente alinhadas ao nosso verdadeiro modo de vida.